Pedro Arbex
Quando trabalhou na indústria de bens de consumo — em gigantes como a Kraft Heinz e a Mondelez — Raphael Traticoski se deparou com uma dor recorrente: a dificuldade de terceirizar a produção e de gerir esses fornecedores. Para tentar resolver o problema — e ganhar dinheiro com isso — ele fundou há quatro anos a GrowinCo, uma startup que vem sendo descrita como o ‘Uber das indústrias’.
Basicamente, a GrowinCo conecta fábricas que tenham ociosidade com outras indústrias ou marcas que precisem produzir de forma rápida, e ajuda a gerir esses terceirizados numa plataforma de software as a service (SaaS). Esse mercado — ainda pequeno no Brasil — é conhecido nos EUA como ‘comanufacturing’ (ou comanufatura).
Normalmente, uma multinacional que precisa lançar um produto novo – sem ter capacidade fabril – tem que contactar as fábricas uma a uma para saber qual está ociosa e depois contratá-la. “E essas grandes empresas sempre têm um padrão de qualidade muito alto, então não é qualquer fábrica que passa no filtro delas,” Raphael disse ao Brazil Journal. Com este processo, o tempo médio para colocar um produto novo na gôndola — o chamado speed to market — gira em torno de 20 meses. Mas ao conectar as duas pontas e entregar uma plataforma que concentra os dados de todos os prestadores, a GrowinCo diz que reduziu esse prazo pela metade.
“A gente sempre faz um pre-assessment para avaliar a qualidade das fábricas,” diz Raphael. “E o secret sauce de como conseguimos encontrar essas indústrias e enriquecer os dados deles é que criamos um algoritmo que permite identificar a ociosidade com base em dados históricos e ver quais produtos cada fábrica faz.” Agora, a GrowinCo acaba de fechar sua primeira rodada para pisar no acelerador e ganhar escala fora do Brasil.
A captação de US$ 1 milhão foi feita com três fundos de early stage — o Harvard Angels, GV Angels e a Urca Angels — além da Mandi Ventures, a gestora de venture capital de Antônio Moreira Salles e Julio Benetti. Raphael disse que a GrowinCo nunca tinha feito uma rodada porque gera caixa desde o sexto mês de operação, “mas decidimos captar agora porque encontramos o product-market fit. Uma tese que acho que dá para escalar muito e na qual vamos apostar grande.”
Em seu modelo atual, a GrowinCo opera apenas com ecossistemas exclusivos para grandes clientes, que trazem para dentro da plataforma sua rede atual de fornecedores, que em seguida é ampliada com a rede da própria startup.
“Nesse modelo, a gente vira a plataforma oficial de colaboração deles com os fornecedores, e eles conseguem fazer toda a gestão desses terceirizados por lá. Também damos vários dados sobre cada fábrica, como o nível de ociosidade e os produtos que elas fazem, e ajudamos a gerir todo o processo, como os acordos de confidencialidade,” disse o fundador.
A startup ganha apenas com uma assinatura mensal, e não cobra comissão pelas transações. Agora, no entanto, a GrowinCo está criando um marketplace que será voltado para indústrias de médio porte, marcas digitais e marcas próprias de supermercados. Um MVP já está rodando com 50 indústrias, que estão pagando um fee em cima das transações.
No futuro, Raphael disse que espera que a receita transacional se torne a principal linha de receita da startup, superando a assinatura. A GrowinCo já tem 86 mil indústrias cadastradas na plataforma, entre clientes e terceirizados.
A lista de clientes inclui multinacionais como a Mondelez, Kellogg’s, Natura&Co e Ajinomoto. Hoje, cerca de 70% da receita vem de fora do Brasil, com os Estados Unidos representando 30%, o México, 8%, e o restante pulverizado entre diversos países. Parte dos recursos da rodada será para crescer ainda mais nos EUA, onde o mercado de ‘comanufatura’ é muito mais maduro que no Brasil — em grande parte pela penetração maior das marcas próprias de supermercados. “A Europa é ainda mais madura, e estamos começando a ter algumas coisas por lá também,” disse o CEO.
Fonte: https://braziljournal.com/growinco-a-startup-que-quer-popularizar-a-comanufatura/