Em dezembro de 2024, o preço do cacau atingiu US$ 12.565 por tonelada na bolsa de Nova York – um aumento de quase 300% em relação aos US$ 2.500 registrados apenas dois anos antes. Esta crise do cacau representa muito mais que volatilidade de mercado para uma indústria que movimenta mais de R$ 20 bilhões anuais no Brasil: são um spoiler de uma transformação estrutural inevitável.
Enquanto fabricantes tradicionais lutam para manter margens e consumidores resistem a aumentos constantes de preços, pesquisadores brasileiros desenvolveram uma tecnologia que pode redefinir completamente essa equação. Mas antes de entender como, é preciso compreender a dimensão real da crise que estamos enfrentando.
Crise do cacau: a anatomia de uma transformação histórica
Os preços do cacau subiram 136% entre julho de 2022 e fevereiro de 2024, de acordo com o monitoramento de preços de commodities da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, Unctad. Em 2025, o aumento do custo do cacau em nível mundial chegou a cerca de 180% em dois anos, criando um cenário sem precedentes para a indústria.
Os números revelam a gravidade estrutural do problema:
Déficit persistente na oferta global: A Organização Internacional do Cacau (ICCO) prevê que a produção ficará abaixo da demanda em 374.000 toneladas na temporada 2023-2024, o terceiro déficit consecutivo. A fabricante Barry Callebaut, uma das maiores processadoras mundiais, projeta um déficit ainda maior: 500.000 toneladas, equivalente a cerca de um décimo da produção global.
Concentração geográfica extrema: Costa do Marfim e Gana respondem por aproximadamente 60% da produção mundial. Ondas de calor e chuvas intensas estão prejudicando as colheitas nessas regiões, demonstrando como a vulnerabilidade climática se tornou um fator permanente, não temporário.
Impacto direto na produção brasileira: No ano passado foram 805 mil toneladas de chocolate produzidas no Brasil, um crescimento de 6% que pode ser interrompido pelos custos elevados de matéria-prima.
O dilema brasileiro: grande indústria, pequena autossuficiência
O Brasil possui a sexta maior indústria de chocolate do mundo, mas enfrenta um dilema: Brasil, que esteve no topo da produção mundial há várias décadas, hoje ocupa uma posição de coadjuvante no cenário global, atrás de países africanos e do Equador.
Dados do setor revelam nossa dependência preocupante:
PIB vs. autossuficiência: Atualmente, o PIB da cadeia produtiva do cacau ultrapassa R$ 20 bilhões, valor gerado principalmente pela indústria processadora das amêndoas e de produção do chocolate. Ao mesmo tempo, precisamos importar cacau para abastecer essa indústria bilionária.
Emprego vs. vulnerabilidade: O setor cresceu 9,8% no primeiro trimestre deste ano, com produção de 219 mil toneladas, e gera cerca de 23 mil empregos diretos no país. Esses empregos ficam vulneráveis quando dependemos de importações sujeitas a volatilidade extrema.
A situação se torna ainda mais complexa quando analisamos o comportamento dos preços domésticos. Os preços subiram mais de 115% no período de um ano, e eles não conseguem repassar esse custo para o chocolate. Aqui no Brasil, teve uma alta próxima a 15% no último ano.
Essa diferença entre o aumento de custos (115%) e o repasse ao consumidor (15%) está comprimindo margens de forma insustentável.
Estratégias defensivas: limitações das respostas tradicionais
Existem algumas estratégias limitadas que têm sido adotadas na indústria brasileira de chocolate desde o início dessa crise. Tais ações até que funcionam, mas revelam um problema estrutural nesse nicho:
Absorção parcial dos custos: As empresas estão absorvendo parte significativa dos aumentos para manter competitividade, sacrificando margens de lucro. Essa estratégia tem limite temporal claro.
Reformulação de produtos: Redução do percentual de cacau em formulações, substituição por outros ingredientes menos nobres, ou desenvolvimento de linhas com menor densidade de cacau por unidade.
Diversificação geográfica de fornecedores: Busca por origens alternativas para reduzir dependência, mas enfrentando o mesmo problema fundamental de oferta limitada globalmente.
Segmentação estratégica: Manutenção de produtos premium com margens mais altas e desenvolvimento de linhas econômicas com formulações otimizadas para custo.
Todas essas opções tratam sintomas, não a causa raiz: a dependência estrutural de uma commodity com oferta limitada e crescente volatilidade.
A descoberta da USP: tecnologia nacional para um problema global
Enquanto a indústria implementa estratégias defensivas, pesquisadores da Universidade de São Paulo desenvolveram uma abordagem diferente: uma formulação tecnológica que replica as características sensoriais e funcionais do cacau através de processos alternativos.
Esta não é uma tentativa de criar “chocolate artificial” ou substitutos inferiores. É uma tecnologia aplicada para resolver um problema fundamental de engenharia de alimentos: como manter perfil sensorial idêntico reduzindo a dependência de uma matéria-prima específica.
A ideia veio de um grupo de pesquisadores orientados pela Professora Dra. Suzanna Lannes, que desenvolveram a patente Composição Alimentícia de Chocolate com Reaproveitamento de Resíduos Agroindustriais, que pretendem substituir o uso do cacau na produção do chocolate. E não só isso: a formulação possui ainda um perfil nutricional mais interessante, com alta capacidade antioxidante.
Dessa forma, ela permite o desenvolvimento de chocolates e outros derivados com características semelhantes ao chocolate tradicional mas com mais benefícios nutricionais e com um menor impacto ambiental.
Oportunidade estratégica: timing e exclusividade
Agora que entendemos um pouco sobre a tecnologia, no que ela impacta aos nossos clientes e futuros parceiros? Veja só
Para grandes fabricantes: Oportunidade de reduzir significativamente custos de matéria-prima mantendo qualidade, criando vantagem competitiva sustentável sobre concorrentes que continuarem dependentes de cacau importado.
Para marcas premium: Possibilidade de manter margens altas mesmo com pressão de custos, ou alternativamente, democratizar produtos premium através de custos menores.
Para copackers e fornecedores: Diferencial competitivo importante na captação de clientes que buscam alternativas para gestão de custos.
Para novos fabricantes: Redução da barreira de entrada em segmentos historicamente limitados por margens apertadas devido ao custo do cacau.
Posicionamento estratégico: Brasil como exportador de tecnologia
Esta oportunidade transcende a questão de custos domésticos. Pela primeira vez em décadas, o Brasil tem potencial para liderar uma transformação tecnológica global em uma indústria de US$ 150 bilhões.
Vantagem competitiva temporal: Empresas brasileiras que implementarem primeiro terão vantagem de curva de aprendizado e otimização de processos antes que a tecnologia se torne mainstream globalmente.
Oportunidade de exportação: Além de resolver problemas domésticos, empresas brasileiras podem se tornar fornecedoras de soluções tecnológicas para a indústria mundial.
Posicionamento de marca: Pioneirismo em sustentabilidade e inovação, elementos crescentemente importantes para consumidores globais.
Perspectivas futuras: transformação estrutural vs. adaptação incremental
A atual crise do cacau não é cíclica – é estrutural. Essa situação começou a se formar em 2024, quando o preço do cacau alcançou patamares históricos, com aumentos superiores a 90%, e as causas fundamentais (concentração geográfica, vulnerabilidade climática, crescimento da demanda) não mostram sinais de reversão.
Empresas que tratarem isso como uma crise temporária a ser “superada” estarão em desvantagem competitiva permanente em relação àquelas que reconhecerem a necessidade de transformação estrutural.
A tecnologia da USP representa uma oportunidade única de transformar uma vulnerabilidade setorial em vantagem competitiva individual. Mas como toda oportunidade de primeira-mover advantage, tem janela temporal limitada.
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